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Foto do escritorAngélica Madalosso

Qual o melhor posicionamento de marca empregadora nesse dia da mulher?

Mais um dia da mulher, mas, esse talvez seja o mais importante dos últimos tempos. Ano em que milhões de mulheres foram desafiadas a coordenar a vida profissional e pessoal com uma maestria que não se consegue de uma hora para outra e que mostrou ainda mais as diferenças entre os gêneros no mercado de trabalho.


Para mim, acho que o fato de ser mãe e mulher foi o que mais pesou. Tenho uma filha de dois anos e três meses, que quando a pandemia começou estava ensaiando as primeiras palavras e acostumada com a rotina diária de uma escola e dos pais 100% presentes nos momentos em que estávamos juntos.


Do dia para noite, a escola fechou e tanto eu quanto o meu marido passamos um mês em casa. Ele trabalha na aviação e foram 3 meses sem um voo. Eu acabei ficando o primeiro mês só. E aí eu já quero puxar uma crença que acredito...se por trás de um grande homem existe uma grande mulher, por trás de uma grande mulher, também, existe um grande homem, isso vale para parceiros, etc. Na minha opinião, a equidade de gênero começa com a consciência do sexo masculino em saber que precisamos APOIAR uns aos outros sem diferenças em tarefas e desafios. Tenho o privilégio de ter um pai que sempre me motivou a fazer esportes que alguns consideram masculinos, a participar de competições, a ler livros de aventuras e que me deu a liberdade de escolher a profissão que eu queria. Minha mãe sempre trabalhou fora e os dois sempre se dividiram nas tarefas, fazendo com que cada um tivesse a oportunidade de se desenvolver em suas carreiras. Lá em casa agora não é diferente, posso até dizer que as tarefas que dizem “femininas” são mais feitas pelo meu marido, que adora cuidar dos detalhes da casa, cozinhar e etc e esse não é o meu forte.

Nesse período em que não tivemos ajuda com a Ana Luiza, meu marido foi pai, professor, babá, dono de casa e assim por diante. Tudo isso para quê? Para que eu pudesse trabalhar da empresa onde eu estava na época. Uma bebê de um ano não consegue entender que uma mãe tem que trabalhar e quando ela me via em casa e eu não dava atenção era muito choro, fora isso eu estava na linha de frente de uma área nova, que me propus a implementar e que precisava dar certo, mesmo em meio a pandemia e isso exigia uma dedicação total ao desafio. Fora isso, eu não poderia correr riscos de perder meu emprego, meu marido já estava recebendo o equivalente a 10% do que estava acostumado a receber e as principais contas não tivemos como reduzir: financiamento, mercado, impostos e por aí vai.


Por sorte, eu fui forte e tenho um parceiro que desde sempre me apoia em meus sonhos pessoais e profissionais. Mas, no mundo, quantos homens são assim? E quantas mulheres tiveram o privilégio de ter uma casa confortável, que tiveram apoio com seus filhos nesse ano e nos outros? E aquelas que trabalham no serviço de saúde e não tinha com quem deixar os filhos ou aquelas que têm maridos ou parceiros violentos e alcóolatras e tiveram e que precisam ficar em quarentena com essas pessoas? Imagina viver isolado assim?

Então, mais do que parabéns, esse dia da mulher me faz pensar e colocar as sandálias dessas tantas mulheres que estão aí passando por um momento complexo, delicado e que precisam lutar sozinhas.


Como profissional de employer branding, estive acompanhando nos últimos dias o que tem sido comunicado por parte das empresas sobre o tema. Vejo posts sobre como celebrar o dia das mulheres dentro das organizações. Não condeno ações com flores, eu particularmente amo flores, contudo mais do que isso é momento de deixar claro o posicionamento da empresa quanto à equidade de gênero.


Se o cenário ainda não é o ideal (realidade da maioria das empresas, principalmente quando olhamos para cargos de liderança) é momento de dialogar sobre esse desafio, escutar as mulheres que fazem parte da empresa e entender quais são os limitadores para que mais mulheres estejam presentes no negócio.


Ainda em 2016, quando estava trabalhando para o GRU Airport criamos um painel voltado para as mulheres que estavam em cargos de liderança no aeroporto e em desafios operacionais e fomos surpreendidas por histórias incríveis e por insights que ajudaram a direcionar os esforços de rh em relação à frente. Infelizmente existem profissões que mulheres às vezes até desconhecem que podem atuar. É nosso papel destacar mulheres que preenchem esses cargos e contar essas histórias. Por ter tido em minha trajetória profissional muitas empresas vinculadas à aviação, lembro sempre do exemplo de pilotos. Quantas mulheres deixaram de ser pilotas por nem saberem que poderiam ser tripulantes técnicas? Hoje, as companhias do mundo reforçam essa possibilidade realizando voos com tripulações exclusivamente femininas e turmas de pilotos exclusiva para mulheres.


Aproveitando, compartilho uma curiosidade que me deixa cheia de orgulho: em 8 de março de 1910, Raymonde de Laroche foi a primeira mulher do mundo a receber sua licença de piloto, emitida pela Federação Internacional de Aeronáutica. Por uma grande coincidência, a data seria mais tarde adotada com Dia Internacional da Mulher.


Mas sabe qual atitude / posicionamento que eu acho essencial nesse 8 de março? É uma pesquisa para saber como as profissionais estão se sentindo nesse momento e em quais desafios elas estão precisando de ajuda. Tenho certeza de que as empresas que fizerem isso descobrirão inúmeras formas de apoiar nós mulheres nesse momento e dessa forma se posicionarem como empregadoras humanas e próximas.


Vi muitas empresas que aproveitaram a data para reafirmar seu compromisso com as mulheres. Um dos exemplos é um dos maiores grupos de beleza do mundo que se comprometeu globalmente a ter 35% de mulheres na alta liderança (vice-presidente e acima) e 50% no Conselho de Administração até 2023, bem como garantir paridade de gênero e remuneração igualitária entre toda a sua força de trabalho até 2023. Confesso que acho esse tipo de posicionamento algo comparado ao “pinky money”. Como uma empresa que diz ter o propósito voltado para as mulheres tem CEOs na linha de frente de seus negócios homens ainda? Será que em 2021 ainda não existem mulheres competentes para assumir esse desafio? Isso não é uma crítica específica à uma determinada empresa, mas a todas as empresas que estão divulgando esse tipo de meta. Para pensar, não?

Uma iniciativa que pode ser estratégica para as organizações, lançada na última semana, foi o Guia Exame de Diversidade, o ranking já está na 3ª edição e pode ser uma boa opção para as organizações que queiram entender mais a sua realidade.


Vi também que nessa semana, a Zenklub, plataforma de terapia online já usada por grandes empresas como a própria Natura, Creditas e Votorantim, recebeu um aporte de 45 milhões. Esse crescimento da ferramenta demonstra que pode ser um bom caminho para apoiar mulheres nesse momento.


Sobre campanhas que estão no mercado, quero dar destaque a Giuliana Flores, a empresa online de entrega de arranjos e presentes, teve sua campanha externa protagonizada pelas mulheres que formam a empresa e contando suas histórias de vida, desmitificando a questão das flores nessa data.




Já como iniciativa global, quero falar um pouco do programa da Pepsico chamado WomanMade, que dá apoio a empresas fundadas por mulheres de diversas formas, inclusive por meio de mentoria de profissionais da empresa. Vale navegar no portal:





Bom, o artigo já está extenso e poderia render um livro, mas acho importante deixar esse relato para que muitas mulheres também sejam estimuladas a compartilhar suas experiências diariamente.


Já evoluímos muito, mas se tem muito mais para fazer. Agora mesmo, estou em uma sala onde só enxergo empreendedores homens e isso me faz ter certeza de que o esforço precisa seguir e que acreditar em nós é o primeiro passo.

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